Filme: Nada de novo no front (1930)

[SPOLIER ALERT, se é que dá para chamar de spoiler contar cenas de um filme de 1930]

Em 1930, o filme "Sem novidade no front" ou "Nada de novo no front" fez tanto sucesso que a frase pegou e virou moda, como mostra o jornal Folha da Manhã.


O filme é uma tragédia em que, um a um, todos os personagens morrem, de modo que se denuncia o absurdo da primeira guerra para a população que de fato dela participa e que nela morre, em oposição aos estratagemas e interesses de seus líderes. A mote do título aumenta a dimensão da crítica, apresentando o drama da guerra como algo tristemente recorrente.

Um dos melhores momentos do filme, para mim, é essa cena em que os jovens soldados, sentados, conversam:



- Bem, como eles fizeram para começar uma guerra?
- Bom, um país ofende o outro.
-Como poderia um país ofender o outro?
- Você quer dizer que uma montanha na Alemanha, se aborrece com um campo na França?
- Bem, estúpido, uma pessoas ofendem outras.
- Oh, se for isto, não devo estar aqui. Não me sinto ofendido.
- Não se aplica a tranqueiras como você.
- Bom. Então posso ir para casa imediatamente.
- Ah, você pode tentar isto.
- Sim. Você vai levar um tiro?
- O Kaiser e eu... Eu e o Kaiser também sentimos a mesma coisa sobre esta guerra. Não fizemos nada para ter essa guerra, então vou para casa.
- Ele já está lá.
- Alguém deve ter querido isto.
- Talvez tenham sido os ingleses.
- Não, não quero atirar em nenhum inglês. Não vi nenhum enquanto vinha pra cá. E acho que a maioria deles nunca viu um alemão, até virem aqui. Estou certo que eles não foram consultados sobre isto.
- Não.
- Bem... tem que estar fazendo bem para alguém.

Em determinado momento do filme eu me peguei pensando "ora, mas é um filme sobre americanos na Primeira Guerra? Isso está estranho." Foi quando lembrei que o filme, apesar de ser em inglês, se propõe a contar a história do ponto de vista de um soldado alemão. Acontece que, em Nada de novo do Front os soldados alemães são mostrados sem o estereótipo com o qual nos acostumamos: não são frios, secos e muito menos sisudos. São apenas jovens como quaisquer outros. Será que o estereótipo começou só após a ascensão de Hitler e da II Guerra Mundial?

Falando sobre estereótipos, vale a pena ver Reel Bad Arabs (https://www.youtube.com/watch?v=f3o4Rtp2jTQ), que traça um bom panorama da imagem dos árabes em filmes hollywoodianos. Nem Alladin escapa! O documentário se debruça especificamente sobre a construção do árabe como vilão terrorista sem alma e sem história, mas logo que assisti já me peguei pensando em como são mostrados os homens e mulheres alemães, judeus, russos, latinos ou brasileiros. É claro que o legal é ver o processo, os detalhes, os ruídos, como isso é feito, afinal, que as narrativas hollywoodianas ecoem em grande medida valores hegemônicos etnocêntricos e imperialistas, "nada de novo no front"...