O conceito explicado pelo autor: Anthony Giddens e a modernidade reflexiva



Hoje é aniversário do sociólogo Anthony Giddens. Em comemoração, compartilho um trecho em que ele conversa sobre um de seus principais conceitos: "reflexividade" ou de "modernidade reflexiva". O diálogo faz parte do livro "Conversas com Anthony Giddens: o sentido da modernidade".

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Um tema que não abordamos explicitamente ao falar da modernidade é a ideia de reflexividade, ideia que a seu ver é extremamente importante e na verdade nos remete aquilo que o sr. dizia sobre atores cônscios, consciência prática e assim por diante.

Tem a ver também com todas as coisas de que vimos falando. A reflexividade tem dois sentidos: um que é bastante amplo, e outro que diz respeito mais diretamente à moderna vida social. Todo ser humano é reflexivo no sentido de que pensar a respeito do que se faz é parte integrante do ato de fazer, seja conscientemente ou no plano da consciência prática. A reflexividade social se refere a um mundo que é cada vez mais constituído de informação, e não de modos preestabelecidos de conduta. E como vivemos depois que nos afastamos das tradições e da natureza, par termos que tomar tantas decisões prospectivas. Nesse sentido, vivemos de modo muito mais reflexivo do que as gerações passadas.

Creio que há talvez um contraste entre o que o sr. diz em The consequences of modernity e o que o teórico social alemão Ulrich Beck diz em A reinvenção da política. Beck estabelece uma transição entre a modernização simples e a modernização do tipo reflexivo. O sr. acha que passamos de uma modernidade "simples" para outra, mais "reflexiva"?

Sim, embora a divisão não seja bem definida. A modernização reflexiva diz respeito a modernidade recente, refletindo-se nas limitações e dificuldades da própria modernidade. Tem a ver com problemas básicos da política moderna, pois a modernização simples ou linear ainda predomina em certas partes do mundo, sobretudo no Sudeste asiático, pelo menos até recentemente. No Ocidente e nas sociedades industrializadas desenvolvidas existem condições para a modernização reflexiva, e o principal problema da modernização é o que vem a ser a própria modernização.

O sr. às vezes se refere também ao período mais recente como modernidade “radicalizada” Em que sentido?

Bem, na verdade é a mesma coisa: a crescente erosão da tradição e da natureza. A radicalização da modernidade significa ser obrigado a viver de modo mais reflexivo, enfrentando um futuro mais incerto e problemático.

Alguns afirmam que esse processo de transformação da modernidade realmente está nos conduzindo a algo que é pós-moderno. O sr. parece resistir a essa ideia.

Sim. O que as outros chamam de pós-moderno e para mim a radicalização da modernidade no sentido em que vimos falando. Os princípios dinâmicos da modernidade ainda estão aí: a expansão do capitalismo, os efeitos transformadores da ciência e da tecnologia, a expansão da democracia de massa. Por isso prefiro falar de modernização reflexiva, em vez de pós-modernidade. Só existe modernidade e só podemos refletir sobre a modernidade através da modernidade; isto e, através, também, da ciência e da tecnologia. Não se pode escapar da ciência e da tecnologia senão através da ciência e da tecnologia.