Sobre as simetrias e assimetrias do “escola sem partido”



Existe uma assimetria na relação professor aluno que precisa sempre ser pensada. O termo “doutrinação”, adotado pelos apoiadores do programa "escola sem partido", porém, se vale de uma interpretação rasa dessa assimetria ao supor que os alunos são seres passivos e sem história. Não é preciso ser professor ou ter filhos para saber. Qualquer pessoa, olhando para sua própria história, é capaz de se recordar que a pior característica para descrever adolescentes é chamá-los de “passivos”. No máximo, poderíamos talvez pensar em termos de influência, mesmo assim, sempre sem garantias.


E quem iria controlar o que pode ser dito na escola? O projeto “escola sem partido”, ao mesmo tempo em que radicaliza essa assimetria entre professor aluno como sendo total, ignora (ou esconde) que qualquer forma de controle do discurso do professor seria estabelecer outra assimetria, dessa vez entre professores e vigilantes. Quem iria concentrar o poder de dizer o que pode e o que não pode ser dito pelos professores? (E se for exatamente o professor “doutrinador” e se for um padre e se for alguém que não é da área? Existe alguém neutro ou apenas alguém que concorda com a gente?) Qualquer hierarquia criada de forma a vigiar esses discursos seria uma ruptura com o melhor equilíbrio que temos na escola, que é a simetria de poder entre professores com pensamentos diferentes.

Concordo que precisamos nos preocupar com a garantia da pluralidade de discursos dentro da escola, mas o projeto "escola sem partido", ao criar uma forma de controle sobre esses discursos faz exatamente o oposto. A melhor garantia da pluralidade está na simetria de poder entre professores e não no controle hierarquizado e na censura.